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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

MATEUS STARLING QUARTETO - LANÇAMENTO DO SEU SEGUNDO CD ( FREE FUSION ) NO ARMAZÉM DO JAZZ





Por Alexandre Bastos site: www.guitarexperience.com.br


LIBERDADE CRIATIVA TOTAL

Free Fusion – Mateus Starling – Independente

                Em seu segundo CD “Free Fusion” o guitarrista Mateus Starling aporta novamente com sua proposta livre, intensa, criativa e desprendida de misturar jazz moderno, fusion, rock e música brasileira. Com seu quarteto Mateus nos brinda com um disco de altíssimo nível, dentro de uma concepção moderna, madura e extremamente musical. Traduzindo isto tudo em “Free Fusion” temos o que podemos chamar de “estado de arte”. Em suas sete faixas, “Free Fusion” traz uma proposta incrivelmente diferente de musica instrumental. Uma visão de liberdade criativa total, tanto para o guitarrista, como para os excelentes músicos que o acompanham nesta empreitada.





“777” – Esta música tem uma sonoridade assustadoramente vanguardista, onde podemos nos arremeter ao NY jazz sound. A música começa com um tema dobrado pela guitarra e o sax, lembrando muito durante a execução do tema a sonoridade de guitarristas como Bill Frisell, Mick Goodrich e Allan Holdsworth. Na parte “B” do tema, temos um desdobramento para o jazz rock, onde a vanguarda musical apresentada em grupos como Return To Forever e Weather vem à tona. Uma finesse e uma crueza que são impressionantes para qualquer ouvinte. No solo de guitarra, temos um guitarrista maduro, com linguagem própria e um vocabulário que eu diria inclassificável, pois lembra a elegância de John Scofield, a ousadia de Mick Goodrich e Bill Frisell e a sonoridade intervalar arrojada de Allan Holdsworth, somados a um timbre vigoroso e personalíssimo de guitarra. Starling usa e abusa de manipulações e motivos sobre o tema principal da música, além de não seguir uma tonalidade especifica ou acordes, soando livre e moderno.

“A Cruz” – Me arrisco a dizer que nesta faixa, o músico conseguiu algo que considero impossível. Unir Allan Holdsworth (na fase “Metal Fatigue” e “Secrets”), Scott Henderson (na fase “Tribal Tech”), Frank Zappa (fase “Hot Rats” e “Jazz From Hell”) e Miles Davis (na sua fase “elétrica”, que despontou nomes como John Maclaughin e Mike Stern, para citar alguns”) e primeiro supergrupo de música instrumental brasileira, o Azymuth. Com um riff de guitarra totalmente atonal, mas ao mesmo tempo contagiante e “grudento” e um groove de bateria e baixo gorduroso e pesado, além de acordes elegantes e doces, esta música é a disparada a minha predileta deste disco. No inicio de “The Cross” é exposto um tema feito pelo sax que pontua e “cola” nos ouvidos de uma maneira suave e bela, mesmo com um timbre agressivo e “rasgado”, construído belissimamente com intervalos incomuns. Na segunda parte do tema, o sax passa a dobrar com o riff feito pela guitarra, onde temos a sensação que este riff é à segunda parte do tema. Mateus executa um improviso belíssimo e complexo, usando com maestria um dos elementos que é expressivo em sua personalidade musical, o dodecafonismo. Este “solo” é um desafio para quem quer que seja que deseje executá-lo, pois se deve ter um desprendimento total sobre tonalidade e escalas, além de uma pesquisa intensa sobre motivos e intervalos. No improviso de sax, o guitarrista, faz intervenções com acordes inusitados e motivos rítmicos que lembram muito a sonoridade de Chick Korea, Herbie Hancock e Keith Jarret, que além destacar e contribuir para a composição do improviso de Julio Merlino, ressalta ainda mais a ousadia e o desprendimento musical do guitarrista.
 
“Free Fusion” – A faixa título do CD pode ser também como uma segunda parte de “The Cross”, tamanha a semelhança da sonoridade da faixa anterior. Porém em “Free Fusion”, temos uma manipulação do tema com uma melodia em tritonos, executada em intervalos de quarta aumentada pelo sax e pela guitarra. O “créme-de-la-créme” da faixa está no dialogo entre o sax e a guitarra, onde o guitarrista provavelmente se inspirou muito em Mick Goodrick Bill Frisell, Adrian Bellew e David Torn, se utilizando magistralmente de efeitos como oitavador, delay, simulador de caixas Leslie e whammy, fazendo com que a guitarra soasse com um sintetizador, valorizando a composição. O improviso de baixo é um deleite, pois é valorizado pela interação da bateria, executada de maneira precisa. Nesta faixa temos um resultado incrível de sincronicidade e espontaneidade entre todos os músicos. Sublime.

“Maracatu” – Com uma levada de bateria com motivos rítmicos de maracatu, o guitarrista mistura o jazz vanguardista com a musica brasileira, novamente lembrando o Azymuth e o Medusa (dois grupos sensacionais de musica instrumental brasileira dos anos 1970). O guitarrista aplica uma sonoridade de guitarra bem moderna, soando como um sintetizador Moog (clássico aparelho muito usado nos anos 1970, pelas bandas de jazz e rock progressivo), liberando o sax para improvisar livremente. Mateus também contribui com seu improviso de uma maneira peculiaríssima e muito pessoal, construído com linhas melódicas que não sugere escalas ou arpejos manjados, soando totalmente espontâneo e com sonoridade próxima aos improvisos realizados por pianistas ou trompetistas, repleto de manipulação de motivos rítmicos e melódicos, fugindo dos padrões de “solo de guitarra”. Uma composição dentro da composição.

“O Silêncio de Deus” – Uma faixa reflexiva e contemplativa, onde o guitarrista se inspirou em sua fé para compô-la. Uma balada belíssima, com um tema emocionante, doce e ao mesmo tempo poderoso. Em seu improviso, Starling dispara notas belíssimas, que condizem com o tema, com uma suavidade e contundência similares a John Scofield, Robben Ford e Joshua Redman, tamanha a perfeição na construção do improviso, que é ainda mais belo, dada a beleza idem da construção do improviso de sax, dando a impressão ao ouvinte que este improviso é o complemento do anterior. Soa como parte integrante e inseparável da música.

“Para Os Que Ficaram” – Ouvindo esta faixa, que me arrisco a dizer pode ser tanto cinematográfica, quanto literária ou teatral, e lembrei-me de roteiros teatrais como “Santa Joana dos Matadouros” de Bertold Brecht, livros como “Confesso que Vivi” de Pablo Neruda e filmes como “Meia Noite em Paris” de Woody Allen. O que exatamente quero dizer com isso é que esta música em minha opinião tem o status de arte em sua maneira mais sublime e pura. As emoções humanas. Com seu inicio tenso típico de uma noite fria em uma Chicago dos anos 1920 e seu desenvolvimento suave como um caminhar pelas ruas de Paris na Belle Époque, o guitarrista compôs uma música realmente paisagista e que desperta imagens no ouvinte, exatamente como descrevi anteriormente. Em seu improviso, Starling cria a sensação de uma historia que prende e emociona como se fosse um livro clássico de nossa literatura “Crime e Castigo” de Dostoievski, com um desfecho surpreendente e emocionante, onde leva o ouvinte a refletir em seus mais profundos sentimentos.

“Tríade Mutante” – Esta música encerra o disco de forma brilhante, onde o guitarrista mostra sua maneira impar de compor e manipular tríades para uma excelente construção musical, tanto na condução da harmonia como na reação da banda em cada improviso. Realmente esta música traz um frescor sonoro comparável aos grandes mestres do jazz moderno como Kurt Rosewinckel, Mike Stern entre outros. Aliado a uma cozinha rítmica contagiante e intervenções perfeitas do sax, “Tríade Mutante” mostra uma composição madura, fruto de uma liberdade que só é conseguida após a quebra de todos os paradigmas utilizados em música.

Posso concluir que este disco deve ser essencial para quem deseja descobrir novas sonoridades e INDISPENSÁVEL para aqueles que tem sede de novas propostas musicais.



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Mateus Starling
guitarrista, professor de musica.

www.mateusstarling.com.br
 Mais sobre Mateus Starling click aqui

 
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